Nova fase de apresentações consolida o projeto de cultura como espaço de formação humana e artística plural

Grupo de Teatro La Broma da UFFS completa 14 anos de história e traz novas peças para o público infantil

Os alunos do Colégio Cívico Militar Dom Carlos Eduardo foram os primeiros a receberem a peça “As vontades de Raquel”

Das adaptações literárias às experimentações corporais contemporâneas, o grupo de Teatro La Broma da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza está circulando pelas escolas de Realeza com uma nova peça dedicada ao público infantil: “As vontades de Raquel”, uma teatralização inspirada no romance “A bolsa amarela”, da escritora Lygia Bojunga. A nova fase de apresentações consolida o projeto de cultura como espaço de formação humana e artística plural, já que neste ano o grupo teatral completa 14 anos de existência.

Os alunos do 6º e 7º anos do Colégio Cívico Militar Dom Carlos Eduardo foram os primeiros a receberem a peça “As vontades de Raquel”, que conta a história de uma menina que tem três grandes vontades secretas: ser garoto, ser gente grande e ser escritora. As apresentações ocorreram nos dias 17 e 18 de junho e mais de cem estudantes se divertiram com a encenação. O espetáculo conta com trilha sonora original, entre as músicas está um rap composto e interpretado pela acadêmica do curso de Nutrição, Shirley Carolina Santos Costa. As quatro canções da peça foram produzidas em parceria com o Projeto de Cultura Canção e Autoria, coordenado pelo professor da UFFS Marcos Roberto da Silva.

A professora Ana Carolina Teixeira Pinto, que coordena o Projeto de Cultura Grupo de Teatro La Broma, comenta que no mês de agosto as apresentações serão realizadas na Escola Municipal Juscelino Kubitscher e no Colégio Estadual João Paulo II, além do Cmei Vó Totinha. “Essa é uma apresentação que aborda temas importantes como identidade e sonhos infantis, promovendo a reflexão, a empatia e a transformação social. No mês de setembro levaremos o espetáculo para as escolas de Santa Izabel do Oeste. Tanto na estreia na cidade de Chapecó-SC no mês de maio, como agora em Realeza, as crianças expressaram entusiasmo e interação espontânea com nossos atores”, destacou.

O grupo teatral conta com 15 integrantes, entre eles acadêmicos dos cursos de Letras – Português e Espanhol, Nutrição e Medicina Veterinária e de pós-graduação, além de alunos do ensino médio e artistas da comunidade, o que reflete o caráter multidisciplinar e inclusivo do projeto. “Desde a fundação em 2011, mais de 70 integrantes já passaram pela trajetória do La Broma, o projeto mantém a essência de unir academia e comunidade em criações artísticas que favoreçam a formação integral e o diálogo com a comunidade regional”, disse Ana Carolina.

A pesquisa é outro pilar do La broma, já que em 2022 o grupo tornou-se objeto de três artigos acadêmicos publicados na Revista Travessia da Unioeste, que analisaram as performances sob óticas como tradução, acessibilidade e adaptação ao virtual. “Essa foi uma grande conquista para o grupo, pois são trabalhos acadêmicos que evidenciam a importância das artes cênicas e performáticas no contexto da nossa região”, celebrou a coordenação.

Do aprendizado para os palcos escolares

Uma das integrantes do grupo, é a acadêmica do curso de Letras – Português e Espanhol, Andressa Schneider, que participa do projeto há dois anos. A estudante reflete como as artes cênicas podem ser aliadas no processo de transformação individual e coletivo. “O teatro é algo que engrandece muito o senso crítico e cultural, pois a partir desse aspecto lúdico o público pode experimentar uma situação hipotética e aprender com aquilo. O teatro faz a gente refletir sobre a realidade e a forma como se lida com as pessoas, tanto dentro do grupo, como quanto com o público”, comentou.

Outra característica marcante do projeto cultural é o bilinguismo, já que a cada ano o grupo produz duas peças: uma em língua portuguesa (“As vontades de Raquel”) e outra em língua espanhola (“Composición de lugar”). Os encontros de formação do grupo tem metodologia híbrida, com atividades presenciais e virtuais. “O processo teatral exige criação, estudo e muita pesquisa para a adaptação de textos e das obras, além de estudos para a composição cênica, aspectos semióticos, expressão corporal e de trabalho com a voz. Neste caso, o aprendizado em língua espanhola é feito de forma orgânica e imersiva, pois para que os participantes atuem em língua espanhola eles devem estudar a partir de textos, vídeos e áudios em língua espanhola”, enfatizou Ana Carolina.

A peça deste ano em língua espanhola é “Composición de lugar”, uma colagem a partir da obra homônima da escritora uruguaia Amanda Berenguer (1921 – 2010) e do trabalho teórico-artístico de Lygia Clark. A colagem é uma técnica cênica que combina elementos diversos, como textos, imagens, sons, movimentos e objetos e que em “Composición de lugar” esses elementos são usados para colocar em xeque o lugar do real e do virtual na sociedade contemporânea. Esta performance foi uma das que marcaram a trajetória da estudante Andressa: “Fiquei muito feliz quando Dermeval Saviani, um influente pedagogo e filósofo da educação brasileira, elogiou nossa performance, foi algo grandioso”, lembrou a acadêmica de Letras. A apresentação ocorreu durante o II Seminário das licenciaturas (SELICEN) na UFFS – Campus Chapecó, no dia 22 de maio.

Andressa Schneider e Clara Pires estudantes que integram o grupo de teatro falam sobre a experiência que adquiriram

A participação de Andressa no grupo também incentivou sua prima, Clara Pires, de 17 anos, a frequentar o Projeto Cultural Grupo de Teatro La Broma. Clara é aluna do ensino médio do Colégio Doze de Novembro, de Realeza, e participa do projeto há um ano. Ela conta que os ensaios e a rotina de estudos foram importantes para melhorar aspectos da oratória. “O teatro ajudou muito na minha dicção e tudo mais, porque é muito texto para decorar, falar, e a entonação de voz muda. A participação no grupo trouxe a certeza do quero para a minha vida. Me encontrei muito no teatro”, disse.

Parceria entre universidade e escola

O teatro na escola promove a interação entre os alunos e os artistas, conforme destacou a vice-diretora do Colégio Cívico Militar Dom Carlos Eduardo, Márcia Regina Voltolini. “Temos uma parceria de longa data com a UFFS, começou com o projeto ‘Quem Lê Viaja’ – que depois se tornou ‘Quem Lê Viaja e Se Diverte’ –, criamos uma relação de confiança. Quando vem uma atividade diferenciada, como a apresentação teatral, os alunos adoram e participam ativamente dessas interações”, comentou.

A bibliotecária, Jaqueline Saccomori, completou dizendo que o acervo do colégio conta com 20 exemplares do livro “A bolsa amarela”, da escritora Lygia Bojunga, que inspirou a produção teatral de “As vontades de Raquel”pelo Grupo de Teatro La Broma. “Essa iniciativa da UFFS em trazer o teatro para nossos alunos com certeza desperta a curiosidade e é mais um incentivo para que eles busquem conhecer o livro de autoria de Lygia Bojunga”, salientou.

Como nasceu o La Broma

Fundado em 2011, a partir de projeto de extensão em Língua Hispânica, o La Broma fez sua primeira apresentação performática com a peça ‘Entre tu verdad más honda y yo – I’m a walking cliché’, que foi inspirada nos poemas do espanhol Pedro Salinas. A intervenção desconstruía clichês do amor ocidental durante a  I Semana Acadêmica de Letras do Campus Realeza e na I Semana Acadêmica de Letras do Campus Cerro Largo.

Em 2013, consolida-se o nome do grupo a partir da apresentação “Un rápido disparate”, inspirado no conto “Un sueño realizado”, do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti. O conto traz a história de um diretor de teatro fracassado e seu amigo que tem a incumbência de colocar em cena o sonho de uma mulher. Entre uma articulação de produção e outra, o diretor lembra de uma brincadeira (broma), o que batizou o coletivo artístico.

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