Por muito tempo, bastava ao médico ser tecnicamente competente. O conhecimento científico e o atendimento ao paciente eram vistos como os únicos pilares necessários para o sucesso na profissão. Mas o cenário atual mostra que a prática clínica, isolada, já não sustenta uma carreira estável. De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil 2025, elaborado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), o país ultrapassa em 2025 a marca de 635,7 mil médicos em atividade.
O número recorde amplia a competição e exige que o profissional de saúde vá além do domínio técnico, redesenhando o mercado e impondo desafios inéditos de gestão, liderança e planejamento do próprio negócio. A projeção para 2035 é que o Brasil supere 1 milhão de médicos ativos.
É nesse contexto que o cirurgião plástico Dr. Vinicius Julio Camargo propõe uma reflexão sobre o papel do médico como gestor. “Durante a formação médica, quase ninguém fala em administração, gestão de pessoas, finanças. O foco está, naturalmente, no paciente. Mas a realidade da prática clínica contemporânea tem mostrado que, para prosperar e garantir a sustentabilidade de sua atuação, o médico precisa ir além do jaleco e assumir também o papel de empresário”, afirma.
O médico defende que compreender o funcionamento do próprio negócio, dominar noções de finanças, liderança e usar dados para tomar decisões assertivas é fundamental. Para ele, o empreendedorismo médico não é antagônico à ética, mas uma extensão dela. A boa gestão, argumenta, também é uma forma de cuidar: garante sustentabilidade, melhora o atendimento e fortalece a relação com o paciente. “Ser empresário na saúde não significa se afastar da vocação médica. Significa dar a ela estrutura, continuidade e propósito. A medicina é nobre, mas, para alcançar seu potencial máximo, é preciso cuidar não apenas das pessoas, mas também do ambiente onde elas são atendidas”, completa.
Em seu livro ‘Sucesso Além do Jaleco’, o cirurgião plástico relata o momento em que percebeu que apenas o saber clínico não bastava. “Via colegas tecnicamente brilhantes enfrentando dificuldades, enquanto outros, com menos preparo técnico, prosperavam. A diferença estava na capacidade de administrar a própria carreira”, escreve.
Para ele, o desafio de “tirar o jaleco e vestir o CNPJ” resume a transição que define a nova medicina brasileira: mais ampla, mais diversa e cada vez mais exigente em termos de gestão. “Em um país que caminha para ter mais de 1 milhão de médicos em pouco mais de uma década, a capacidade de unir técnica, gestão e propósito pode ser o diferencial entre sobreviver e prosperar na profissão”, finaliza.
Da assessoria

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