Durante o mês de março, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, em todas as segundas-feiras, a procuradora da Mulher da Câmara Municipal de Pato Branco, vereadora Anne Gomes (PSD), convidou uma mulher para, no espaço da Participação de Convidados, abordarem sobre um tema, serão as “Segundas das Mulheres”. Nesta primeira semana, a convidada foi Rosana Demétrio Costa, membro de liderança do Grupo Identidade Preta, que falou sobre “A realidade da população autodeclarada negra em Pato Branco: desafios, conquistas e perspectivas para a equidade racial.”
Já te perguntaste como é realmente viver em Pato Branco sendo negro? Rosana, uma líder do Coletivo Identidade Preta, partilha conosco a sua experiência e a necessidade urgente de maior igualdade racial e representação na nossa cidade. Vamos juntos descobrir os desafios e as esperanças que moldam a realidade da população negra em Pato Branco.
Clique aqui e acompanhe o video da apresentação da lider do Grupo Identidade Preta
A Dificuldade de Falar sobre Raça em Pato Branco
Rosana vive em Pato Branco há mais de 10 anos e, desde o início, notou uma certa hesitação em falar sobre raça. A palavra “negro” parece carregar um peso diferente, e abordar questões raciais pode ser desconfortável. Pato Branco tem raízes históricas como uma cidade fundada maioritariamente por descendentes europeus. Essa herança moldou a cultura e as percepções locais. No entanto, a cidade está a mudar. A sua população está a tornar-se mais diversificada, e com essa mudança surge a necessidade de uma representação mais equitativa.
Reflexão Interna e Representação no Local de Trabalho
Quantas pessoas negras trabalham na tua empresa? Já te fizeste essa pergunta? Rosana, como gerente numa empresa de tecnologia, faz. Ela acredita que todos devemos olhar para dentro das nossas organizações e avaliar a diversidade. Rosana envolve-se ativamente no processo de recrutamento, procurando garantir que haja representação negra. “O que está a acontecer de errado?”, questiona ela. A representação importa, e o local de trabalho deve refletir a diversidade da comunidade. “É fundamental que as empresas e organizações reflitam a diversidade da nossa sociedade.”
Desconstruindo Estereótipos e Abordando Dúvidas
Quando falamos em “voz negra”, que imagem te vem à cabeça? Muitas vezes, há estereótipos associados à identidade negra. Alguém já te disse “Nem és tão preto assim, és negro. Tens a certeza?”. Este tipo de comentário demonstra uma falta de letramento racial.Será que existe mesmo racismo em Pato Branco? É uma pergunta que muitos fazem, especialmente numa cidade próspera e com muitas oportunidades de emprego. Mas a abundância de vagas significa que não há desigualdade racial?
Desvendando Desigualdades Ocultas
Quem ocupa os subempregos em Pato Branco? As pessoas negras têm acesso a empregos qualificados e bem remunerados? Estão a participar ativamente na política local? É essencial analisar estas questões para compreendermos a realidade da população negra na cidade. Não basta olharmos para o número de empregos disponíveis. Precisamos de ver quem os ocupa e se todos têm as mesmas oportunidades de progredir.
A Realidade Demográfica de Pato Branco
Segundo dados do IBGE de 2022, a população preta e parda em Pato Branco é de cerca de 29.000 pessoas. No entanto, apenas 2.700 se declaram negras. Por que será que existe esta diferença? Será medo? Vergonha? Falta de informação? Um técnico do IBGE comentou que muitas pessoas respondem “sou brasileiro” quando questionadas sobre a sua raça ou cor. Este tipo de resposta, comum na região, revela a dificuldade em assumir a identidade negra.
A Dificuldade de Envolvimento e o Medo da Associação
Rosana e o Coletivo Identidade Preta organizam eventos para dar voz às mulheres negras. No entanto, convidar pessoas para participar não é fácil. Muitas hesitam, demonstram desconforto e evitam o envolvimento.”Ah, que legal, mas não é comigo. Não posso estar lá. Não me vincule a isso”, ouvem frequentemente. Este receio de associação demonstra o quão sensível é o tema do racismo e a necessidade de desmistificá-lo.
Reconhecendo a Lacuna entre Orgulho e Medo
Em São Paulo, o orgulho negro é forte e visível. Em Pato Branco, o medo de falar sobre raça ainda é predominante. Empresários e políticos questionam-se sobre os benefícios de abordar este assunto. É preciso mostrar que falar sobre raça não é sinónimo de criar problemas, mas sim de encontrar soluções e construir uma sociedade mais justa e igualitária.
O Papel do Coletivo Identidade Preta
O Coletivo Identidade Preta tem como missão apoiar e defender a comunidade negra em Pato Branco. O objetivo é dar voz a quem não a tem, combater estereótipos e promover a igualdade racial. Rosana orgulha-se do trabalho que o coletivo tem vindo a desenvolver e incentiva a comunidade a ajudar os seus membros. A representação é fundamental para que todos se sintam acolhidos e valorizados.
Abordando Percepções e Promovendo a Igualdade
Como é que as pessoas de fora veem Pato Branco? Já te perguntaram como consegues “sobreviver” aqui sendo negro? Muitas vezes, há percepções preconceituosas sobre a cidade. Rosana desafia a ideia de que Pato Branco é abertamente racista, mas reconhece a existência de preconceitos subtis e, muitas vezes, inconscientes. O letramento racial é essencial para identificar e combater estes preconceitos. Num processo de seleção, por exemplo, duas candidatas com as mesmas qualificações, uma branca e outra negra, podem ser avaliadas de forma diferente devido a preconceitos inconscientes. É preciso estar atento e garantir que a escolha seja justa e imparcial.
O letramento racial é o processo de aprendizagem e compreensão das questões raciais, incluindo a história do racismo, os seus impactos e as formas de combatê-lo.
Um Apelo à Ação
O papel da Câmara Municipal é defender os direitos da população. Rosana apela aos vereadores e a todos os cidadãos para que se juntem à luta pela igualdade racial. A igualdade racial não significa dar privilégios aos negros, mas sim criar um campo de jogo nivelado para todos.
O que podes fazer?
- Examina as práticas de recrutamento da tua empresa.
- Apoia negócios de pessoas negras.
- Participa em formações sobre diversidade e inclusão.
- Denuncia o racismo.
Mudanças Demográficas e o Futuro de Pato Branco
A população de Pato Branco está a mudar. Entre 2011 e 2022, a população preta e parda aumentou 100%. As políticas e iniciativas da cidade devem refletir as necessidades da população atual, não apenas da população histórica. Há pessoas negras a contribuir para a cidade em diversos setores: negócios, artes, educação. É importante reconhecer e valorizar o seu trabalho.
Empoderando Vozes Negras e Partilhando Experiências Positivas
Muitos negros hesitam em identificar-se como tal devido ao medo ou à falta de aceitação. Rosana deseja que todos os residentes negros se sintam confortáveis e respeitados em Pato Branco. O apoio coletivo é fundamental para criar um ambiente mais inclusivo.
Para Além das Políticas: Promovendo Confiança e Pertencimento
Combater a desigualdade racial vai além de criar políticas e dar acesso a recursos. É preciso que os empresários e empregadores se questionem por que é que os negros não se candidatam aos seus empregos ou não se sentem confortáveis nos seus locais de trabalho. Muitos sentem que não pertencem, que “aquele lugar não é para mim”. Rosana partilha a sua experiência pessoal de enfrentar preconceito como mulher na área da tecnologia e como pessoa negra.
Transformando Percepções e Construindo uma Sociedade Mais Inclusiva
O objetivo é transformar percepções e criar uma sociedade onde os negros se sintam valorizados e incluídos. É preciso garantir que as oportunidades estejam acessíveis a todos, independentemente da sua origem. Rosana sente-se empoderada quando pode ser ela mesma, sem precisar de provar o seu valor. Orgulha-se de representar a comunidade negra em Pato Branco e de trabalhar para uma sociedade mais justa e equitativa.
Considerações Finais e Gratidão
Rosana agradece a atenção de todos e reconhece os esforços de muitos na promoção da igualdade racial. Incentiva a colaboração contínua e o compromisso com a criação de um Pato Branco mais inclusivo e equitativo. Juntos, podemos construir um futuro onde todos se sintam em casa.
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