O envelhecimento da população brasileira avança em ritmo acelerado — e com ele aumentam as vulnerabilidades que atingem a população idosa. Dados reunidos pelo Departamento de Vigilância Socioassistencial de Pato Branco revelam um cenário que exige atenção urgente: 120 registros de violência contra pessoas com 60 anos ou mais entre 2023 e maio de 2025, incluindo casos de negligência, violência psicológica, agressões físicas, abandono e violência patrimonial. O levantamento faz parte do 5º Boletim Informativo da Vigilância Socioassistencial, que apresenta análises, dados, serviços disponíveis e orientações sobre o enfrentamento à violência contra idosos no município.
Envelhecimento acelerado e maior exposição a riscos
O Brasil vive uma transformação demográfica profunda: segundo o Censo 2022, 32,1 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais — 15,8% da população. No Paraná, já são 1,9 milhão de idosos, e as projeções apontam que esse grupo ultrapassará crianças e adolescentes até 2027.
Em Pato Branco, a mudança etária é evidente. O número de idosos quase triplicou em 22 anos:
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2000: 4.543 pessoas idosas
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2010: 7.186
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2022: 13.800
Esse rápido crescimento aumenta a demanda por políticas de saúde, assistência, acessibilidade e proteção social.
A violência contra a pessoa idosa: um problema muitas vezes invisível
A violência contra idosos ocorre, na maioria das vezes, dentro da própria casa, entre familiares que deveriam exercer o cuidado. De acordo com o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/2003), qualquer forma de negligência, crueldade ou opressão é crime — e sua denúncia é obrigatória.
O boletim mostra que:
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57 idosos já tinham histórico anterior de violência.
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73 vítimas são mulheres (60,8%), refletindo maior longevidade e vulnerabilidades adicionais relacionadas ao gênero.
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A maioria dos casos envolve idosos com 65 anos ou mais (108 registros).
O estudo revela ainda que o envelhecimento, aliado à dependência física ou emocional, ao isolamento e à fragilidade dos vínculos familiares, aumenta significativamente o risco de violações.
Negligência lidera os registros de violência
Entre 2023 e maio de 2025, os tipos de violência mais frequentes foram:
| Tipo de violência | Registros |
|---|---|
| Negligência | 56 |
| Violência psicológica | 25 |
| Violência física | 14 |
| Abandono | 10 |
| Violência patrimonial | 8 |
| Outros | 5 |
| Abuso sexual | 2 |
A negligência — falta de cuidados básicos, alimentação inadequada, omissão de higiene ou medicação — representa 46,6% dos casos atendidos pelo CREAS. É a forma menos visível e mais recorrente, apontando vínculos familiares fragilizados e sobrecarga de cuidadores.
Onde as violências acontecem
A distribuição territorial dos registros evidencia maior concentração nas regiões:
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Sul: 47 casos
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Central: 27
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Oeste: 25
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Norte: 13
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Interior: 5
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Leste: 3
A maioria dos agressores tem vínculo direto com a vítima. Os números mostram:
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Filhos(as): 38 casos
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Cônjuges/companheiros: volume significativo
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Cuidadores, ex-cônjuges e namorados: casos pontuais
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Em 14 registros, o autor não foi identificado.
O boletim reforça que a violência doméstica é a principal expressão da violação de direitos no envelhecimento.
Acesso aos serviços socioassistenciais
A Política Nacional de Assistência Social assegura prioridade a idosos em situação de risco. Em Pato Branco, o acesso a serviços e benefícios revela:
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3.403 idosos inscritos no Cadastro Único
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696 beneficiários do BPC
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192 beneficiários do Programa Bolsa Família
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164 participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (jan–maio/2025)
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2.835 atendimentos às pessoas idosas nas unidades socioassistenciais (jan–maio/2025)
O município também registra:
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38 idosos em acolhimento institucional (maio/2025)
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12 mortes de idosos acolhidos (2023–2025)
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8 casos em que a violência antecedeu o acolhimento institucionalDireitos garantidos pelo Estatuto da Pessoa Idosa
O boletim reforça direitos fundamentais, como:
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prioridade no atendimento em serviços públicos e privados;
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acesso universal ao SUS e aos serviços socioassistenciais;
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convivência familiar e comunitária;
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dignidade, liberdade e autonomia;
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acesso a benefícios como BPC e Bolsa Família;
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proteção contra qualquer forma de violência.
O Estatuto determina: é dever de todos prevenir, denunciar e romper ciclos de violência.
Denúncias: como agir ao presenciar ou suspeitar de violência
Qualquer pessoa pode — e deve — denunciar situações de violação. As denúncias podem ser anônimas.
Canais de atendimento:
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Disque 100 – Direitos Humanos (24h, gratuito e sigiloso)
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Polícia Militar (190) – em situação de emergência
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Ministério Público – 1ª Promotoria de Pato Branco – (46) 3225-2422
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Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa – (46) 3225-3343
Denunciar é um ato de cuidado, responsabilidade social e defesa da vida.

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