Etapa da escavação do túnel de Francisco Beltrão chega ao fim

A escavação do túnel de contenção de cheias em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Estado, termina nesta quinta-feira (3). As obras colocam ponto final na parte mais impactante da intervenção: a estrutura de 8 metros de altura e 1,2 quilômetro de extensão que passa embaixo do município. Esse trabalho final foi executado por 70 funcionários em ritmo intenso.

Com a conclusão do túnel, a obra, que é dividida em mais partes, alcança 62,5% de execução. Os próximos passos serão iniciados ainda neste ano e envolvem a construção das comportas e a escavação do Córrego Urutago para mudar o sentido da água que alaga a cidade em dias de temporal. O caminho natural da vazão será encurtado em quatro quilômetros, favorecendo uma queda lenta e gradual até o desemboque no Rio Marrecas, no bairro Padre Ulrico.

Prevenção- A obra como um todo está prevista para terminar apenas em 2021. O túnel e as estruturas correlatas vão evitar, de uma vez por todas, as enchentes que são parte da história do município e que já geraram perdas sociais e financeiras incalculáveis para os moradores. O investimento do Governo do Estado é de R$ 29 milhões nesse projeto de escavação, inédito em uma cidade do Interior do País, e de R$ 50 milhões ao todo.

“Essa é uma obra debatida há muitos anos dentro do município e que resolverá os problemas com as cheias dos rios que passam no perímetro urbano. Francisco Beltrão conseguiu encontrar uma solução ousada, dentro do escopo ambiental necessário, e conta com apoio do Estado. Esse projeto é uma realidade visível”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “É uma obra marcante e que conseguimos priorizar dentro das necessidades do Sudoeste”.

Execução- O túnel começou a ser construído em duas frentes, no Parque de Exposições Jayme Canet Júnior e no bairro Padre Ulrico. Elas se encontraram em 24 de setembro. As escavações foram feitas com 5 metros de altura por 5 metros de largura, e desde que as obras se uniram começou o processo de rebaixamento de rocha em mais 3 metros, gerando os 8 metros de altura do projeto original. O túnel fica a 62 metros no ponto mais alto embaixo da terra e terá capacidade de vazão de 285 metros cúbicos por segundo. Do emboque ao desemboque o túnel é formado por uma rampa com inclinação mínima de 0,5% para as águas não alcançarem velocidade muito intensa. A diferença da entrada para a saída será de 6 metros, quando as águas encontrarão o Rio Marrecas.

O túnel foi executado pelo método “Driling and Blasting” (perfuração e detonação), com trabalho ininterrupto de escavação. O ciclo foi composto por perfuração na rocha com jumbo (máquina para perfuração horizontal de rocha); carregamento de explosivo nos furos estratégicos, através de um caminhão bombeado; retirada da equipe; três alertas sonoros; detonação, com avanço médio de 4 metros em rocha; saída dos gases provenientes da detonação; limpeza das rochas detonadas com carregadeira e caminhões; avaliação do resultado, com chamado abatimento de choco (retirada das rochas prestes a cair do teto e das laterais); e tratamento com aplicação de tirantes ou projetado de acordo com a qualidade da rocha e o recomeço do ciclo.

Controladas – As detonações levaram em consideração a resolução 9.653/2018 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que regula as explosões de rocha em perímetro urbano. Todas elas foram controladas com sismógrafo de engenharia. O gráfico base parte de um valor de vibração de 15 milímetros por segundo até 50 milímetros por segundo, que é o máximo que uma construção suporta. Todas as detonações foram 30% abaixo dos limites permitidos.

Próximos passo – O próximo passo envolve a construção de uma comporta basculante de aço com 12 metros de comprimento e 4 metros de altura, com 20 toneladas de peso. Essa estrutura de concreto e aço ficará dentro do parque de exposição Jayme Canet Júnior, no emboque do túnel. Abaixo da comporta haverá, ainda, uma “gaveta” de menor porte para possibilitar fluxo contínuo em baixa vazão e para manter fluxo de água dentro do túnel. Essa estrutura fica pronta em fevereiro.

Há, ainda, outras duas etapas. Uma delas é o aprofundamento e alargamento do Rio Marrecas no perímetro urbano, o que o deixará retilíneo e estável, somado a um projeto de um parque linear com ciclovias, calçada, iluminação pública e academias ao ar livre. A segunda etapa será a construção de uma barragem com as rochas retiradas do túnel fora do perímetro urbano, a cerca de 1,5 quilômetro do ponto em que o rio entra no município em direção à nascente (a montante), em Marmeleiro.

Origem – Francisco Beltrão está localizado em um encontro de bacias, o que pressupõe como condição natural que as chuvas nos municípios vizinhos impactem diretamente o fluxo das águas em sua direção. A maior é a do Rio Marrecas, que corta a cidade ao meio e deságua no Rio Chopim, em direção ao Rio Iguaçu. Já na parte Oeste, a bacia hidrográfica é a do Rio Jaracatiá, que deságua diretamente no Rio Iguaçu, próximo ao município de Nova Prata do Iguaçu.

A prefeitura tentou alternativas para resolver esse problema ao longo do tempo, como limpeza e rebaixamento dos fundos dos rios na área urbana, mas elas nunca foram definitivas. Segundo o prefeito Cleber Fontana, Francisco Beltrão perdeu muitos investimentos ao longo da história com problemas das enchentes. “Esse projeto é um marco na história do Paraná. Estamos construindo um túnel, escavado em rocha dentro da cidade para acabar com as cheias. Geralmente os túneis são rodoviários e ou para geração de energia”, afirma.

Dessa união de concepção do problema com a necessidade de estancamento surgiram, em 2016, estudos preliminares no antigo Instituto das Águas do Paraná (atual Instituto Água e Terra) para a construção de um túnel. A ideia foi encontrar um ponto em que a distância não fosse muito longa e em que o solo permitisse a escavação. Nesse local foi feita uma análise das maiores precipitações da história do município e em mais de um dia, para que o túnel projetado suportasse chuvas de 200 ou 300 milímetros.

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